Sobreengorduramento no traço

Uma prática que algumas saboeiras(os) fazem é adicionar óleo da sobregordura no trace pensando, equivocadamente, que esse óleo é o que vai permacer insaponificado no sabão, isto é, sem reagir com a soda. Este é um dos mitos que povoam o mundo da saboaria artesanal, está tão enraizado que até em livros vc encontra esta prática.

Nada como uma teoria e uma experimentação científica para derrubar mitos.
Foi o que fez Kevin Dunn no seu trabalho: Superfatting and the Lye Discount. Este professor de química é o único químico que tem se dedicado a fazer uma abordagem científica de modo sistemático e tem com isso, contribuido de forma objetiva para explicar os fenômenos da saboaria artesanal.

Fiz uma tradução para o português deste artigo do prof. Kevin Dunn:

Sobreengorduramento e desconto de lixivia.pdf

O artigo original é este:

Superfatting and the lye discount.pdf

 

23 ideias sobre “Sobreengorduramento no traço

  1. Primeiro sou completamente leiga e nada sei de química.
    Penso então que Melinda Coss, em seu novo livro, pergunta: quem garante que os óleos/manteigas especiais/finas usados como SF serão preservados?
    De forma LEIGA podemos deduzir que gastamos manteigas/óleos especiais?
    Um abraço,
    Marian

    Como você pretende fazer estes testes?

    • Marian,
      O superfatting ou desconto de soda funcionam. O que não funciona é adicionar esses óleos e manteigas especiais no trace e pensar que eles permanecerão sem reagir, sem saponificar. No trace ainda tem os seus 90% de soda sem reagir e qdo vc adiciona esses óleos, a soda vai reagir com eles. O trabalho do K. Dunn mostra exatamente isso. Se acontece isso, é perda de tempo e inutilidade adicionar os óleos do SF no trace, melhor é misturar tudo jundo nos óleos principais. Uma parte destes óleos/manteigas especiais ficam sem reagir junto com os outros óleos constituindo o SF. A quantidade que fica, é difícil estimar porque depende da reatividade de cada óleo.

  2. Super interessante a pesquisa! Acabei de fazer meu primeiro lote de sabão e deixei meus óleos SF pro final! Haha Pena que não li isso algumas horinhas antes!! Bom, agradeço o conhecimento compartilhado!! Toda vez que venho em seu site, saio com uma maior compreensão dessa arte!! 🙂

  3. Roberto, boa noite
    Gostaria de tirar uma dúvida. Sempre faço o sabão já jogando na calculadora o índice de SF (uso 5% ou 6%) e misturo todos os óleos juntos à lixívia.
    Para fazer o SF no trace eu calculo a fórmula usando 0% de SF e coloco os 5 ou 6% “por fora” na hora do trace?
    Obrigada

    • Nanci Helena,
      Vc está fazendo o correto. Existe um equívoco que muitas saboeiras fazem que é justamente isso que vc falou de adicionar óleos SF no trace.
      No trace ainda tem uns 90% de soda ativa na massa e qdo se adiciona óleos como SF, normalmente caros e específicos, no trace esse óleo vai reagir com a soda presente no trace. Ao final, o que vc vai ter de SF (óleos sem reagir) é uma mistura dos óleos que compõe a sua fórmula e não aquele que vc adicionaou no trace.

  4. Olá, Roberto!
    Seu blog é fantástico!
    Comecei tentando fazer sabonete através do processo quente, porém não obtive sucesso. Não tenho a panela de cozimento lento, então minha experiência se deu através do banho maria mesmo. Quando a massa atingiu o ponto de traço, parei de mexer, esperando que no decorrer do processo atingisse o processo que chamam de gelificação. No entanto, a massa foi endurecendo, endurecendo e virou uma grande pedra dura. Fiquei bastante frustada.
    Então encontrei seu blog e a esperança ressurgiu dentro de mim. Fiz através do processo frio o sabonete 100% oliva. Ficou ótimo! Fiz umas outras tentativas, seguindo mais ou menos suas sugestões, com infusões aquosas de ervas, argilas, óleos carreadores com essenciais. Também ficaram bons.
    Acontece que lendo mais e mais suas postagens, deparei-me com essa temática dos “super fats”, o que de fato me deixou bastante triste, pois minha intenção ao elaborar meus próprios sabonetes é que eles sejam “medicinais”. Sei pelo que você tem escrito por aqui que somente no hot processes é possível manter as propriedades dos óleos adicionais, pois os mesmos são adicionados após o processo de saponificação estar encerrado.
    Enfim, como minhas primeiras experiências através do hot foram frustadas, surgiu-me a ideia de fazer o processo de saponificação a frio, enformar, esperar de 24 a 48 horas, depois derreter em banho maria para então acrescentar os óleos carreadores com os óleos essenciais, pensando que dessa forma não haveria a destruição dos princípios ativos desses super fats. Você acha que seria possível?
    Vi que você desaconselha derreter quando há óleo de palma. Tenho usado nos meus sabonetes uma gordura de côco, que consegui encontrar numa loja que vende artigos para confeitaria em Curitiba. Li a composição e diz que há gordura de côco, de palma, de palmiste. Uma mistura disso. Você já ouviu falar?
    Bom, desculpe o grande comentário, mas é que realmente estou querendo seguir com minha vontade de fazer sabonetes mais medicinais. Não descarto a possibilidade de fazer o processo a quente, porém não consegui ainda entender muito bem. Você trabalha com a agitação contínua, certo? Pelo que li nos comentários de posts seus, têm pessoas que fazem “no braço” mesmo. Ou seja, significa mexer por mais de uma hora direto? E aquela prática de parar de mexer no traço? Você saberia dizer alguma coisa?
    Muito obrigada!
    Aguardo ansiosa uma luz!
    Mariana

    • Mariana,

      É estranho isso que aconteceu no seu processo HP. Se a temperatura do banho maria for mantida, o sabão não teria como endurecer. A saponificação continuaria e teria que entrar na fase de gel translúcido.

      É possível fazer isso que pretende, é o chamado rebatch, teria que ralar o sabão para facilitar solubilizar e adicionar mais ou menos 10% de água para fundir o sabão. O problema é que o sabão resultante terá um aspecto rústico pois é dificil manusear a massa fundida de sabão.

      Isso de nao derreter qdo tem palma é válido para os sabões de base glicerina. O sabão de glicerina que faço não é uma base glicerinada porque contém óleo de palma.

      Não conheço esse óleo de coco que vc se refere. Muito estranho conter coco, palma e palmaste!

      Eu uso um agitador mecanico, e tb faço com a panela de cozimento lento, mas é perfeitamente possível fazer com banho-maria e uma vez atingido o traço, não é necessário agitar continuamente, basta mexer a cada 20 ou 30 minutos e ao cabo de 1 1/2h e sabão estará pronto.

      • Muito obrigada pela resposta. Estou mais confiante para as próximas experiências. Estou entrando em contato com fornecedores de óleo de palma. Em breve poderei experimentar suas fórmulas. Um grande abraço e tudo de bom!

  5. Boa tarde Professor
    tenho uma questão que gostaria da sua ajuda, a formula de sabão que mais uso é de , azeite, palma e coco, formula que já tenho correcta e corre bem, quando quero acrescentar outros oleos faço, sem alterar a formula e tem corrido bem. Agora quero fazer o mesmo acrescentando o oleo de ricinio, já acrescentei 3% e tb 5%, mas não esta a correr bem…, fica o sabão com oleo e mole.. o que esta a correr mal?? tenho que alterar a formula?? é que queria começar a usar o oleo de ricinio em todos os sabões , porque faz uma espuma mais densa…aguardo a sua ajuda. Obrigado

    • Germana,
      Toda vez que alterar a composição dos óleos da sua fórmula é necessário calcular a possível alteração na quantidade de soda.
      Se vc adicionou o rícino e não compensou a soda necessária, essa quantidade de rícino está entrando como sobreengorduramento (SF) e portanto pode estar ocasionando essa quadra na dureza do sabão.

  6. Muito Obrigado Professor. pela sua explicação. Só mais uma questão eu estava usando o oleo de ricinio como sobreengorduramento, como faco com o oleo de amendoas doce e manteigas de karité e de cacau., Professor como devo usar o oleo de ricinio ?? pode ser em sobreengorduramento e que percentagem?? ou deve ser sempre na formula base. Obrigado mais uma vez pela sua ajuda que é preciosa. Cumprimentos

    • Germana,
      O sobrengorduramento só faz sentido se vc está a fazer um sabão por hot process.
      No cold o sobreengorduramento não será do óleo que foi adicionado por último no traço, será uma mistura dos óleos que compõe a sua fórmula.
      O rícino entra como um óleo que promove a formação de uma espuma cremosa e densa, para isso pode usar 5%.

  7. Boa tarde Professor,
    Mais uma vez , venho recorrer as seus conhecimentos , tenho uma grande duvida e que não consigo acertar.
    quero fazer sabão com leite e mel, e só com mel, tanto um como o outro não fica uniforme, o mel é como que fica concentrado só nalguns sítios do sabão e noutros não, estou a usar 6% de mel para um 1000gr de oleos. Já fiz vários e nunca fica bonito… não consigo um sabão de mel uniforme, pode me ajudar ?? o que estou a fazer de errado e como posso fazer estes sabões?? estão a dar me cabo da cabeça. desde já agradeço Professor.
    Cumprimentos Germana

  8. Professor, estou no início do meu aprendizado apenas por leituras e estudos, nunca fiz cursos porém já faço sabões caseiros com reaproveitamento de óleo há algum tempo. Por amar fazer sabão resolvi me aprofundar nos sabonetes mas ainda sem os equipamentos necessários como termômetro e balança . Seria utopia fazer um sabonete dessa forma?
    Minha receita foi com azeite extra virgem, óleo de côco e rícino porém ficou sem agora então joguei no banho Maria e tentei recuperar colocando um pouco de água , ele deu uma água amarronzada que descartei o acesso, ao final do processo que não ficou duro como alguns relatos que li coloquei oléo essencial de maracujá. O sabonete ficou um pouco mole e soltando essa água amarronzada. Quando levo o sabão para o rebatch tenho que acrescentar mais soda para uma nova saponificação?
    Adorei o esclarecimento do superfating, estava estudando sobre isso mais cedo e agora vou fazer como o senhor explica.
    Obrigada!

  9. Olá Akira
    Obrigada por ter a humildade de propagar todo o seu conhecimento em um mondo onde todo mundo quer cobrar por isso, e ao tirar dúvidas ficam enfiando cursos sobre nós, ignorando a hipótese de pessoas que correm atras de aprender por não ter dinheiro para investir em um curso ao primeiro contato, fazendo da saboaria uma fonte de renda.

    Minha dúvida é bem simples
    Estou reproduzindo duas formulas suas, a Acqua e a Lavanda
    refiz todos os seus cálculos na unha para poder aprender pra fazer minhas próprias formulas. Porém nessa de recalcular fiquei com uma enorme dúvida
    1- Não tem óleos base sobrando na suas formulas, e nem desconto de soda, o que me fez pensar que não tem superfatting, é isso?
    2- o seu superfatting então seria os óleos essenciais ??

    Obrigada desde já

    • Luana,
      Todas as fórmulas de cold process tem 5% de superfatting.
      Óleos essenciais não deve ser considerados no SF pois não são saponificávei.