Sabão de óleos medicinais – neem, andiroba e copaíba

P1030481 textA saponificação a frio, o cold process, é um modo simples e fácil de fazer sabão, mas tem seus inconvenientes. A incorporação de qualquer aditivo, aromas e ativos só podem ser feitos na presença da soda cáustica, isto é, todos esses componentes estão presentes no ambiente da reação de saponificação dos óleos. Este ambiente de forte alcalinidade não poupa quase nada, literalmente destroi muitos princípios ativos de muitos componentes.

P1030493Existe uma crença equivocada de que a adição de ativos no trace preserva esse ativo do ataque da soda porque no trace a maioria da soda já foi consumida. Engano, no trace somente aproximadamente 10% de soda foi consumida para formar a emulsão (trace), o restante continua lá e vai reagir da mesma forma. Deste modo o conceito de superfatting (SF) é também equivocada quando se pensa que aquele determinado óleo, normalmente um óleo nobre, vai ficar íntegro dentro do sabão. O que acontece, se existe um excesso de óleo (ou redução de soda) é que ao final da saponificação vai ficar uma mistura de óleos que fazem parte da composição de óleos da fórmula e não aquele determinado óleo que foi adicionado no trace.

P1030496 textP1030500Deste modo não tem muito sentido apregoar certo ditos de eficácia, por exemplo, de sabões terapêuticos feitos com óleos medicinais como o óleo de Neem feitos por cold process. Os componentes do Neem depois da saponificação já nao existe mais, vai existir os sais de sódio do ácido graxos palmítico, esteárico, oleico e linoleico, componentes do óleo de Neem,  uma composição quase invariável da maioria dos óleos vegetais. Alguém pode argumentar, por exemplo neste caso do Neem, que certos componentes não reagem com a soda e permanecem intactos, mas isso carece de comprovação científica, mesmo porque o teor de insaponificáveis do Neem é zero.

P1030502P1030508O melhor modo nestes casos, é mudar o process de cold process para hot process. No hot process a adição dos ativos é feita ao final da saponificação a quente o que preserva integralmente os componentes.

P1030510P1030512Foi o que foi feito com estes três sabões de óleos medicinais – Neem (Azadirachta indica), Andiroba (Carapa guianensis, Meliaceae) e Copaíba (Copaifera spp., Leguminosas)

P1030513A fórmula básica é:  Oliva/Palmiste/Palma/Mamona – 45/25/25/5, um SF de zero, concentração de soda de 30% e 7% sobre óleos dos óleos medicinais.
Aroma, neem – folha cedro e citronela, andiroba – citronela, patchouli e petigrain, e copaiba – eucalipto estageriana e eucalipto globulus

P1030517As propriedades terapêuticas destes óleos são:
Óleo de Neem – fungicida, antibacterianas, antiviróticas e inseticida dermatológico Óleo de Andiroba – antiinflamatório, cicatrizantes e insetifugas, fortalecedor dos cabelos.
Óleo Resina de Copaíba – antiinflamatório, cicatrizante, antibacterianas.

O processo usado foi o Hot Process com Agitação Contínua – HPAC.

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35 ideias sobre “Sabão de óleos medicinais – neem, andiroba e copaíba

  1. Roberto, penso exatamente como você….o sabão feito pelo processo a quente é na verdade muito mais correto que o sabão a frio, principalmente quando se quer usar um óleo que tenha função medicinal. Por isso meus sabonetes tem os nomes dos aromas, e só. depois que entendi muitos torvelinhos do processo, também entendi isso.

  2. Tenho dúvida quanto ao tempo de cozimento na panela de cozimento lento.
    Beth ensina que para 700 gramas de óleos em 30 minutos fazemos o teste “lamber sabão”.
    Em alguns vídeos o tempo na panela de cozimento lento é de 2h para 1,176 quilogramas de óleos.
    Apreciaria comentário.
    😉

    • Marian,
      Depende de vários fatores esse tempo de cozimento, inclusive do que é considerado o “ponto” certo para considerar o sabão pronto, e nem sempre é qdo passa no teste de zap (lingua) ou na medida do pH. O melhor é observar se o sabao passou pelas fases característica do processo a quente para garantir a estrutura do sabão.
      As panelas crock pot mais comums, as tradicionais, são de formato alto, a relação altura largura é maior do que 1 (H/L > 1) e hoje as mais comums essa relação é menor do que um (H/L < 1). Essas cuja largura são maiores e mais baixas, são mais eficiente na recuperação do calor ao retirar a tampa para mexer a massa de sabão. Obviamente depende da quantidade de sabão que está sendo feita, da vezes que vc mexe a massa - toda vez que isso acontece, há uma perda de calor que retarda o cozimento.

    • Beth,
      Eu normalmente sou crítico com a questão de desperdicio, procuro sempre usar um molde que nao necessita fazer ajustes no corte do sabão que gere aparas. Nete caso do HP é preciso fazer o acabamento para nao deixar as barras muito rústicas e acabam gerando essas aparas.
      Tenho guardado e pensaria em um rebatch. Mas isso que vc falou é um a boa idéia! Obrigado!

  3. Boa tarde Professor,
    Vou fazer uma sugestão que, na verdade, é até um pedido.
    Poderia criar um item Hot Process, assim como o item Cold Process que já existe?
    O método está bem explicado, mas parece meio solto no meio de tanta informação.
    Gostaria de ter as imagens passo a passo que costuma colocar e que são tão elucidativas…
    Abç.

  4. Senhor Akira,
    Me tire uma dúvida quanto ao hot process, por favor.
    Você disse que “no hot process a adição dos ativos é feita ao final da saponificação a quente o que preserva integralmente os componentes.”
    Entendo, logo, que, já que são colocados ao final do processo, os óleos medicinais não reagem com a soda. Porque então adicionar além, dos 30% de concentração da soda, a concentração de soda de 7% sobre os óleos medicinais?
    Obrigada. Antonieta.

  5. Senhor Akira,
    Devo estar fazendo uma interpretação errada.
    Estou interpretando sua frase: A fórmula básica é: Oliva/Palmiste/Palma/Mamona – 45/25/25/5, um SF de zero, concentração de soda de 30% e 7% sobre óleos dos óleos medicinais.”

    entendi assim: concentração de soda de 30%. Mais concentração de soda 7% sobre os óleos dos óleos medicinais.

    Ou seria: Concentração de soda de 30%. Concentração dos óleos medicinais de 7% sobre os óleos.

    De toda maneira, minha dúvida é a seguinte: Eu devo calcular a quantidade de soda em relação ao conjunto (óleos + óleos medicinais), ou apenas sobre os óleos?

    obrigada!

  6. Boa tarde senhor Roberto. Você poderia me informar o IS do óleo de Andiroba? Não estou encontrando um numero de maneira confiável. Obrigado.

  7. Olá Roberto.
    Em relação aos óleos medicinais, qual foi a proporção de óleos medicinais usada em relação aos óleos “normais”? E é só adicioná-los puro no final do processo ou eles precisam de algum tratamento especial?
    Desde já, agradeço pela atenção.

      • Olá Roberto Akira.
        Fiz meu primeiro sabonete, um hot process usando palma, babaçu, oliva e mamona (35/30/30/5) e soda a 30%. Fiz uma massa de 500g. Usei argila verde para pigmentar antes da adição da soda. Admito que fiquei meio perdido em verificar as fases do cozimento, tirando a primeira fase que é mais simples de ver. No final da saponificação, adicionei 5% de óleo de neem puro com 4g de OE de cipreste. A massa ficou bem firme na hora de coloca-la na forma. Hoje, depois de 24h, qdo fui tirar da forma, a massa está mole, se eu apertá-la, ela afunda. Será que foi o óleo de neem puro? A argila? Mas como ficou cheiroso e o ph tá em 9.2, vou usar assim mesmo. rsrs
        Obrigado

        • Toni,
          Está estranho, o óleo de neem como SF não provoca isso, eu uso 7% e fica firme.
          Espero um pouco mais fora do molde e veja se dá dureza

          • Olá Roberto Akira
            O sabonete está mais firme sim. Eu usei como comparação o sabão de côco e comparando com ele, meu sabão está bem mais macio, porém está firme. Fiz outro sabonete, agora sem argila, levei duas horas cozinhando, este agora ficou firme desde que tirei da forma, mas ainda é mais mole que o sabão de côco. Usei OE de melaleuca, ficou um cheiro muito gostoso pela casa. rsrs. Estou gostando dessa brincadeira de fazer sabão, pena que a matéria prima seja tão cara.
            Abraços

  8. Oi, Roberto
    Gostei muito de suas dicas estou lendo aos pouco seu site, mas estou com uma grande duvida gostaria de saber onde encontrar esses óleos para para fazer sabão.
    Obrigada.

  9. Roberto, estou esperando o neem pra fazer o shampoo.
    Farei no HP. Mas fiquei com uma duvida. Vou fazer a base com SF ZERO.
    Depois colocarei o óleo de neem na qtde de 7% em relação aos outros óleos. Vou usar OE de hortelã pra diminuir o cheiro do neem, normalmente não uso nenhum aroma.
    Duvida (como não tenho hábito de usar) : o OE vai ‘participar’ do SF? Ou seja, seja eu colocar 2% de OE e 7% do neem, ficaria com SF de 9%? Ou nao?

  10. Bom dia Sr Akira!

    Tenho feito algumas receitas tanto de Cold quanto Hot Process. Em relação ao HP, há uma dificuldade para modelar, pois ele já começa a endurecer quando baixamos a temperatura para colocar os aditivos. Então, existe uma relação de óleos que favoreça o HP na hora de modelar o sabonete? Ou seja, utilizar uma porcentagem maior de óleos insaturados?

    Abraços!

    • Silvio,
      O HP convencional é assim mesmo, difícil de manusear a massa qdo a temperatura abaixa.
      Não está relacionado com a composição de óleos dentro do que é razoável de um sabão balanceado.
      O SF ajuda, facilita o manuseio.

  11. Eu faço sabão de andiroba posso colocar caulim e quanto para duzentos litros de azeitede andiroba.

  12. Olá sr akira, obrigada por todos os esclarecimentos e disposição!

    Quera tirar algumas duvidas: 1) tanto no HP e no CP precisa de tampa igualmente o molde? Já vi gente q enrola numa toalha e pronto; 2) óleo de babacu, côco e palmiste podem ser substituídos entre si para cumprir a função limpeza desde q seja levado em consideração o IS sem alterar a consistência final? Pq aqui onde moro só encontro o de côco; 3) se quero usar chás, por exemplo, ele é colocado sempre na dissolução da soda? Não posso adicionar no final do HP?

    Agradeço muito se for possível fazer os esclarecimentos! Estou aprendendo sobre a saponificação e não vejo a hora de pôr as mãos na massa!

    • Ricardo,
      Não necessariamente é preciso colocar uma tampa no molde com a massa. A tampa evita o contado da massa com o ar que pode formar o soda ash a reação da soda com o dióxido de carbono do ar, formando carbonato de sódio.
      Babaçu, coco e palmiste são equivalentes, podem ser intercambiados, inclusive nem é necessário recalculos, não altera a consistência.
      O problema de colocar chá é a quantidade de água, que impossibilita o uso no HP, colocando ao final da saponificação.