O que é o traço?
Muita gente tem dúvidas o que é o traço – trace em inglês, aquele momento em que ao misturar a solução de soda aos óleos com agitação, a mistura começa a adquirir uma consistência devido ao aumento da viscosidade e chega a um ponto ideal em que é preciso parar a agitação e verter para os moldes.
O nome traço vem da observação em que a viscosidade é tal que ao colocar e retirar uma espátula na massa, o escorrido deixa um “traço”, uma marca visível na superfície da massa de sabão.
O traço pode ser leve, médio e pesado e a escolha depende da formulação e o que se deseja trabalhar com o sabão. Por exemplo, se for fazer o swirl – técnica de misturar cores formando padrões no sabão, o traço tem que ser leve para possibilitar tempo para fazer o swirl. No caso de fazer sabão em camadas, quer seja de cores diferentes ou mesmo composições diferentes, é melhor trabalhar com traço de médio a pesado. Se a formulação tiver componentes que aceleram o traço, como a manteiga de karité (alto conteúdo de acido esteárico) ou alguns óleos essenciais, é preferivel parar a agitação no traço leve
O tempo necessário para se obter o traço é função dos componentes da formulação, da temperatura do processo, da concentração da soda e do trabalho mecânico aplicado na agitação – com um mixer de cozinha é questão de poucos minutos, se for manual, com um batedor aramado, um pouco mais demorado.
Se a formulação contiver óleos com ácidos graxos saturados, como a manteiga de karité e a manteiga de cacau, o trace é mais rápido. Os que tiverem monoinsaturados ou poliinsaturados, como o óleo de oliva e o de girassol, o tempo é maior. Temperatura maior, reação mais rápida e traço mais rápido e igualmente para a concentração da soda.
Qual é o fenômeno físico-químico que acontece no traço?
Todos já devem ter observado que ao misturar óleo com a água ou vice-versa, no repouso a água e o óleo se separam, formando camadas distintas, o óleo por cima (menor peso específico) e água por baixo.
O que é preciso para que o óleo e a água se misturem estávelmente?
O modo mais simples é usar produtos chamados surfactantes, tensoativos ou mesmo emulsificantes. São moléculas que possuem um caracter anfifílico, isto é, uma estrutura parte polar e hidrofílica e outra apolar e hidrofóbica.
O sabão é uma surfactante do tipo aniônico, ioniza-se em solução aquosa liberando ânions.
Acima uma representação esteroquímica de uma molécula de sabão, com a cabeça hidrofílica do sal de sódio ou potássio e uma cauda hidrofóbica ou lipofílica do ácido graxo do óleo. A cabeça hidrofóbica se liga à água e a cauda à parte do hidrocarboneto do ácido graxo do óleo. Essa afinidade cria a emulsão compatibilizando numa estrutura estável o óleo e a água.
Então quando se mistura a solução de soda ao óleo, numa situação inicial hipotética para explicar melhor o fenômeno físico-químico onde se supõe que se forme uma interface água-óleo, nesta interface haverá o início da formação de sabão pela reação de saponificação. Se mantida esta situação de repouso, a reação será interrompida pela barreira física e falta de contato entre a solução de soda e o óleo.
Se aplicarmos uma agitação mecânica a este início de saponificação, haverá uma quebra na barreira física e e o contato entre a solução de soda e o óleo será intensificado pelo aumento da área superficial de contato – quebra em micro-partículas. Terá inicio a emulsão e então o nosso conhecido fenômeno do traço
Essa seria a representação da emulsão formada entre a água e o óleo por meio da ação surfactante do sabão que começa a se formar.
A emulsão formada pelo surfactante inicial, o sabão e pela ajuda da ação mecânica do mexedor, expõe o contato íntimo da soda com o óleo que é refletida no aumento da viscosidade, da consistência da massa, pela reação de saponificação. Ao contrário do que muito se lê, a saponificação no traço não passa de 10%, isto é, no traço ainda a reação de saponificação é bem inicial, tem muita soda livre, que vai ser processada no molde e nos proximos três ou pouco mais dias do início da secagem.
Olá Roberto.
Artigo excepcional.
Parabéns!
Abraço
Miguel,
Obrigado!
Muy buena y más que clara exposición!!
Mari,
Gracias!
Gracias, Roberto. Muy claro, pedagógico y preciso:
Fiz sabonete pela 1a. vez e não aguardei o ponto de trace, por isto estou preocupado em utilizá-lo. Após um dia já estava bem firme, desenformei e está curando há 30 dias. Faz excelente espuma. Será que posso utilizá-lo ? Obrigado e parabéns por seus produtos e atenção em nos ensinar !
Abilio,
Sim, pode usar. O trace não é fundamental, no CP ele garante que não haja separação durante a saponificação, mas vc pode ter um trace imperceptível e não ocorrer a separação
Faço sabonetes a algum tempo, testei uma nova receita e deu tudo certo na primeira e na segunda vez, na terceira o trace não formou (com a mesma receita e mesmo método), fui desenformar e o sabonete está mole. o que eu faço? como posso recupera-lo?
Cassyana
Só com essas informações fica difícil adivinhar o que aconteceu.
Qual a fórmula e o processo?
Espetacular essa explicação!
Ah, se meu professor de química tivesse sido assim!
Não faz mal; o que não aprendi com ele, estou aprendendo agora com você, Akira. Muito obrigado!
Lendo em 2019 excelente trabalho