Óleos vegetais para sabão – refinados ou não refinados … mito!

Os óleos vegetais mais comuns que são usados para fazer sabão e sabonetes artesanais são os mesmos que são usados na sua cozinha ou nas cozinhas das industrias de alimentos. São usados no preparo dos alimentos e na fritura.
O soja, canola, girassol e oliva são os mais usados nos lares, o côco na cozinha regional e o palma e palmiste na confeitaria, em doces e na fritura industrial.

Todos esses óleos são comestíveis e de alto consumo, os usados na cozinha doméstica, são encontrados nos supermercados e mercadinhos. Por razões mercadológicas devem obedecer rígidos padrões de apresentação do produto. São padronizados para serem comestíveis e completamente atóxicos e apresentados como líquidos claros e transparentes, isento de particulados, sem odor e com elevado prazo de validade.

Para se atingir essa padronização, os óleos e gorduras de origem vegetal necessitam de um processamento específico. A esse processamento dá se o nome genérico de refino.

Os óleos vegetais são extraidos de uma variedade de sementes, frutos e nozes. A preparação da matéria prima se inicia com a lavagem e limpeza, seguido pelo descasque, trituração e condicionamento.
A extração geralmente é feita por meio mecânico, sendo para frutos a destilação e para sementes e nozes, a presagem com prensa mecânica. ou pelo uso de solventes como o hexano que depois é destilado para separar do óleo e é reaproveitado.

Após a extração, para eliminar os ácidos graxos livres (FFA) que são responsáveis pela rápida deteriorização do óleo e os fosfolipídeos (goma) que deixa o óleo pegajoso, é necessário o processo propriamente dito de refino. Existem dois tipos de refino, o refino físico onde se usa a destilação (p ex. óleo de palma) e o refino químico (maioria dos óleos) onde é usado um álcali, normalmente hidróxido de sódio, para neutralizar o ácido graxo livre.

O método tradicional de refino é o químico onde o álcali diluido saponifica os ácidos graxos livres e é eliminado como sabão, na água. Além do FFA também é eliminado os fosfolipídeos, metais, produtos oxidados, etc.

No método físico é necessário uma etapa de degomagem com ácidos, fosfórico ou cítrico (p ex. palma) para eliminar os fosfolipídeos. Abaixo está um esquema bem simplificado do processo de extração com solvente e refino químico.

O óleo refinado, quando aplicável, passa por um processo de branqueamento com material de absorção (argila ou carvão ativo) e pelo processo de desodorização com fluxo de vapor. No processo final tem se o chamado óleo RDB (refinado, branqueado e desodorizado).

Todo o processo de refino dos óleos não altera a sua composição de triglicerídeos, isto é, a composição dos ácidos graxos. Deste modo as propriedades dos óleos continua a mesma e o sabão feito do óleo refinado é o mesmo, quando aplicável, p ex. oliva, ao óleo não refinado. O refino retira as impuresas contaminantes dos óleos como os FFA e os fosfolipídeos e com alguns óleos vegetais não refinados sequer é possível fazer um sabão, caso do canola e do soja e do palma.

É um dos mitos da saboaria artesanal, isso de ter problemas com o sabão feito de óleo refinado, não existe nenhuma restrição de quantidade e tipo, que afetam as propriedades do sabão. Outra lenda urbana é, no óleo cuja extração foi empregado solvente, este solvente estará presente no sabão! Outra, no refino químico se usa produtos químicos (NaOH) e essa soda estará no óleo e daí vai estragar o sabão! O absurdo é que depois é usado a soda para fazer o sabão!

Abaixo uma relação com os principais óleos e manteigas utilizados na saboaria artesanal e o tipo de processamento para a sua purificação. A numeração do processo se refere ao diagrama anterior.

Como se pode ver, em alguns óleos existe a opção do virgem e extra virgem que significa que o óleo são sofre nenhum refino, notadamente é o oliva,  e outra opção são os orgânicos, que significa que no refino não é usado produtos químicos, caso do palma orgânico. Obviamente estes tipos especiais são bem mais caros e de difícil disponibilidade.
Enfatizo novamente, não existe razão para escolher óleos virgem, extra virgem e orgânicos para fazer o sabão. Não existe diferênças entre sabão feitos com estes tipos de óleos e os comuns, refinados.

 

 

O sabão de marselha em perigo – todos lavam as mãos?

Depois dos problemas enfrentados pelo sabão de Aleppo devido ao conflito na Síria, agora o sabão de Marselha corre o risco de desaparecer!
Esta matéria foi passada pela Beth Bacchini e foi publicada em 14/12/12 no site:
http://www.laprovence.com/article/economie/le-savon-de-marseille-en-danger-tout-le-monde-sen-lave-les-mains.
Foi traduzida do francês, gentilmente, pela Paula Oliveira, de Portugal.

A maior fábrica está em liquidação judicial

A saboaria Fer à Cheval em Sainte-Marthe é um símbolo.

 

Este cubo de 300g feito desde a Idade Média, deveria ter revolucionado todo um setor econômico na Provença.

Só que, lá está, o famoso sabão de Marselha não tem ainda hoje o rótulo protegido. Nada. Nada. Pior, seu nome caiu mesmo no domínio público.

E a maioria dos produtos estampados como sabão de Marselha, não o são, já que são fabricados na Ásia. Uma conseqüência direta: uma das duas últimas grandes saboarias da região, o Fer à Cheval em Sainte-Marthe, está em liquidação judicial desde 31 de outubro. Um duro golpe para esta empresa emblemática de know-how, adquirida e depois vendida pela Henkel, que em janeiro vai perder 12 pessoas.

“No entanto, nós somos os únicos capazes de suprir o mercado com o verdadeiro sabão de Marselha, enquanto todos os outros estão roubando o nome!” diz Bernard Demeure, CEO da Compagnie des Détergents du Savon de Marseille, ou seja, da Saboaria Fer à Cheval, que ele comprou em 2003. Uma empresa que produz menos de 2.000 toneladas apesar da moda lisongear este sabão ultra natural, reivindicado por dermatologistas e fãs da ecologia.

A concorrência é feroz
E vem da Malásia e Itália. Mais cruel ainda, marcas como Petit Marseillais que dá cartas com os seus géis de banho de mel ou lavanda é um puro produto da Johnson & Johnson! Le Chat são produzidas na Alemanha pela Henkel, Chantecler na Itália … ! Basta ler a composição. Atualmente, quatro saboarias históricas defendem a tradição.

“Com o Le Serail em Cours Julien, Marius Fabre em Salon, a Savonnerie du Midi em Aygalades,  formamos uma associação para lutarmos contra os produtos falsificados!” Criaram também  a União dos Profissionais Savon de Marseille com uma carta com base em três critérios específicos: composição, modo de fabricação, origem geográfica.

De fato, La Compagnie des Détergents du Savon de Marseille fornece tanto para a La Compagnie de Provence ou os mais puros produtos, para a Licorne.

“Mas estamos em um período de observação até abril. Portanto eu tento tomar as medidas necessárias para sustentar o negócio, como a loja da fábrica. Mas estou chocado por ninguém fazer nada para o proteger. Marselha não se preocupa nem por um produto que fez a sua história, por instalações que datam do século 19. Lembrar que houve um tempo em que 30% da população ativa trabalhava diretamente ou indiretamente para a saboaria”.

Única saída também para Bernard Demeure: a Indicação Geográfica Protegida (IGP), selo oficial europeu de origem e qualidade que protege os nomes geográficos e oferece uma possibilidade de determinar a origem de um produto alimentar, quando ele obtém alguma da sua especificidade desta origem. “Esta indicação poderia ser aberta para os produtos manufaturados.

” E de resto a Savonnerie du Fer à Cheval gostaria de meter as mãos na massa em 2013.” Há dois anos que trabalhamos num projeto com a empresa Générik Vapeur para um sabão de 30 toneladas! A um mês da abertura, ainda não nos encontraram um espaço mesmo sendo o emblema da cidade e um produto que faz sonhar o mundo”. Na verdade, do que se trata é de um combate: “Se eu me quisesse desembaraçar deles, estes três hectares da fábrica há muito que se poderiam ter tranformado num supermercado”.

A sentença causa em todo o caso frio na espinha:” Se fecharmos dentro de 6 meses, isso significa que o sabão made in Marselha terá terminado. Perde-se também uma parte d a nossa história”.

Senhor Montebourg, há mais na vida do as blusas à marinheira* … Protejamos o “Genuine Marseille soap”!

Agathe Westendorp

* nota da tradução: refere-se a uma marca de blusas à marinheira  da marca Armor-Lux sobre as quais há uma polémica se são ou não feitas na França
Traduzido por Ana Paula Barreto Oliveira

 

UE estabeleceu a proibição para sempre de testes de cosméticos em animais

Traduzi esta matéria que foi publicada em 31/01/13 no site da Cruelty-Free International:
http://www.crueltyfreeinternational.org/en/a/EU-set-to-ban-animal-testing-for-cosmetics-forever-news.

The Body Shop e Cruelty Free International pioneiros da campanha, comemoram após 20 anos de militância.

Depois de mais de 20 anos de campanha, a empresa de produtos éticos de beleza, The Body Shop e a organização  sem fins lucrativos, Cruelty Free International estão finalmente comemorarando o fim de testes de cosméticos em animais na Europa, com o anúncio antecipado de que a importação e venda de produtos cosméticos testados em animais e ingredientes será proibida na UE em 11 de março de 2013.

Esta vitória inovadora significa que, a partir 11 de marco, qualquer pessoa que pretenda vender novos produtos e ingredientes cosméticos na UE não deve testá-los em animais em qualquer lugar do mundo. A proibição afeta todos os cosméticos, incluindo produtos de higiene pessoal e produtos de beleza, do sabão à pasta de dentes. A The Body Shop é uma das poucas marcas de beleza que não serão afetados pela proibição, depois de ter sido sempre contra os testes em animais.

The Body Shop e a Cruelty Free International está lançando uma série de atividades comemorativas especiais na contagem regressiva para março 11, motivados pela confirmação pessoal do Comissário Tonio Borg que a proibição deverá ir em frente, como proposto. Borg escreveu em uma carta recente aos ativistas da campanha, “eu acredito que a proibição deve entrar em vigor em Março de 2013, como o Parlamento e o Conselho já decidiram. Estou, portanto, não pretendendo propor um adiamento ou derrogação à proibição.”

A proposta de proibição envia uma mensagem forte a todo o mundo em apoio a beleza sem crueldade e em particular para países como a China, que ainda exigem testes de cosméticos em animais, para também enganjar e proibir testes em animais.

O Executivo Chefe da Cruelty Free International, Michelle Thew disse: “Este é realmente um evento histórico e culmina com mais de 20 anos de campanha. Agora vamos aplicar a nossa determinação e visão em um palco global para assegurar que o resto do mundo siga esta orientação.”

Paul McGreevy, Diretor Internacional de Valores da The Body Shop prestou homenagem aos clientes que têm apoiado a campanha da empresa contra a experimentação animal em cosméticos por muitos anos e disse: “Esta grande conquista na Europa é apenas o encerramento de um capítulo. O futuro da beleza deve estar livre de crueldade “.

Em 1991, a BUAV (fundador da Cruelty Free International) estabeleceu uma coalizão da liderânça europeia de organizações de proteção aos animal em toda a Europa (ECEAE) com o objetivo de acabar com o uso de testes de cosméticos em animais. Isto desencadeou uma campanha de alta exposição pública e política em toda a Europa ao longo de mais de 20 anos. Em 1993, a The Body Shop, a primeira empresa de beleza a tomar medidas em testes de cosméticos em animais, apoiou a campanha por conseguir o apoio de seus consumidores em toda a Europa. Três anos mais tarde, em 1996, Anita Roddick, fundadora da The Body Shop, juntou-se a membros da ECEAE e deputados na apresentação de uma petição contendo 4 milhões de assinaturas para a Comissão Europeia.

Em 2012, a BUAV estabeleceu a Cruelty Free International, a primeira organização mundial dedicada a acabar com cosméticos testados em animais em todo o mundo. A The Body Shop, juntamente com  a Cruelty Free International lançou uma nova campanha internacional, que até agora resultou em clientes de 55 países que assinaram um compromisso global de apoiar o fim dos testes de cosméticos em animais para sempre.

Cruelty Free International Chief Executive Michelle Thew estará se reunindo com o Comissário Tonio Borg na quarta-feira 30 de janeiro, em nome da Coligação Europeia para Acabar com a Experimentação Animal (ECEAE) para discutir a implementação da proibição.

 

Óleos essenciais fotosensíveis

Alguns óleos essenciais, notadamente os cítricos, são fotosensíveis ou fototóxicos. Estes óleos essenciais em contato com o UV da luz do sol podem provocar danos à pele na forma de queimaduras cujas sequelas podem vir a ser difíceis de eliminar. O componente responsável pela ação fotoquímica são os compostos derivados do furano. 

Existe uma classificação do potencial de fotosensibilidade que é medida pelo tempo após a aplicação que pode ser exposto ao sol sem ter fotoreatividade. Por exemplo, o Lima tem que aguardar 72 horas, enquanto o Tangerina, 24 horas. De qualquer modo não acho seguro este tipo de informação, o melhor é evitar o uso. Também tem outra nuância, alguns cítricos quando destilados da casca não são fotosensíveis, e quando extraidos por cold press, são. O melhor é ser conservador e procurar não usar esses óleos essenciais em produtos em contato com a pele e que fiquem diretamente expostos ao sol.

Na foto está uma severa queimadura provocada pelo suco do limão. Decerto estava preparando uma limonada ou … uma caipirinha! Não lavou as mãos e expôs ao sol!

Sabão em pó caseiro

Grupo discussão Saboaria – Portugal 

Fiz esta fórmula de sabão em pó caseiro para postar num grupo do Facebook que discuti a saboaria artesanal em Portugal.
Este grupo é fabuloso no seu espírito de partilhar conhecimentos de modo transparente e despreendido, todos aprendem e trocam os conhecimentos.
Quem tiver interesse de acessar, o grupo é fechado e precisa solicitar adesão, o endereço é: http://www.facebook.com/groups/saboaria/

Em Portugal a consciência ecológica e de sustentabilidade está em franco desenvolvimento. As pessoas se preocupam com a economia e preservação dos recursos naturais, a reciclagem e com o uso de produtos ecologicamente corretos. Estão sempre procurando produtos que possam substituir os produtos industrializados e derivados dos petroquímicos.

No grupo Saboaria alguém solicitou uma receita de sabão para lavagem de roupas. Sugeri um sabão vegetal de côco que costumo fazer: côco/palma – 75/25, mas como o óleo de côco é caro em Portugal, fiz uma modificação para compatibilizar custos e disponibilidade, sem sacrificar em demasia a performace do sabão. O óleo de oliva extra virgem comum é barato em Portugal, em torno de R$ 8 o litro. A fórmula do sabão de côco original e a modificação estão na página de download.
Deste sabão em barra foi derivado o sabão em pó pois muitos tem o costume de ralar o sabão, dissolver em água e usar na lavadora. O sabão líquido assim preparado fica muito ralo e precisa ser agitado antes de usar.

Por não ter o sabão de côco em barras, fiz o teste, com sucesso, do processo usando um sabonete de lavanda cuja composição é a que mais se aproxima da fórmula do sabão de côco em barras. Essa composição é básica dos meus sabonetes: oliva/côco/palma/rícino: 30/30/35/5. Se deu tudo certo com esta fórmula, com certeza ficará melhor com a fórmula do sabão de côco em barras original ou a modificada.

Fórmula

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O sabão de côco em barras, como disse acima, pode ser o original cuja composição é: óleo de côco/óleo de palma – 75/25 ou a versão portuguesa cuja composição é: óleo de côco/óleo de palma/óleo de oliva – 60/10/30. Lembrar que a dinâmica de limpeza está na solubilidade do sabão e no poder de fazer espumas. Assim sendo, quanto maior a quantidade de palmitato de sódio, um dos mais solúveis sais de sabão e também dos que mais faz espuma, maior é o poder de limpeza.
O carbonato de sódio amolece a água e remove sujeiras e o bórax é um branqueador e tira odores.

Como fazer

É preciso um ralador de cozinha, para ralar a barra de sabão, balança, e um processador de alimentos.

Aqui o sabão ralado no ralador de cozinha. Ralar previamente facilita a moagem no processador de alimentos.

Carbonato de sódio e bórax pesados na balança de cozinha.

No processador de alimentos, aos poucos vai se adicionando o sabão ralado junto com pequenas quantidades de carbonato de sódio e bórax e acionando o processador até obter uma moagem fina. Como é uma mistura de sólido faça aos poucos para preservar o procesador de sobre-aquecimento.

O sabão colorido facilitar observar a homogenidade da mistura.
Quando a mistura estiver bem fina e  bem homogênea o sabão em pó está pronto.

O sabão em pó e a dissolução em água. Obviamente a dissolução deste sabão não pode ser comparado com o sabão em pó sintético, industrializado e com derivados petroquímicos. Este sabão caseiro demora mais para dissolver mas o trabalho mecânico de agitação na lavadora é suficiente para uma boa solubilização e lavagem.

Medida do pH do sabão em pó caseiro. O bórax atua tamponando a solução e mantendo o pH abaixo de 10.

 clique aqui para o download da fórmula sabão em pó

 

 

Entendendo o traço

O que é o traço?

Muita gente tem dúvidas o que é o traço – trace em inglês, aquele momento em que ao misturar a solução de soda aos óleos com agitação, a mistura começa a adquirir uma consistência devido ao aumento da viscosidade e chega a um ponto ideal em que é preciso parar a agitação e verter para os moldes.
O nome traço vem da observação em que a viscosidade é tal que ao colocar e retirar uma espátula na massa, o escorrido deixa um “traço”, uma marca visível na superfície da massa de sabão.

O traço pode ser leve, médio e pesado e a escolha depende da formulação e o que se deseja trabalhar com o sabão. Por exemplo, se for fazer o swirl – técnica de misturar cores formando padrões no sabão, o traço tem que ser leve para possibilitar tempo para fazer o swirl. No caso de fazer sabão em camadas, quer seja de cores diferentes ou mesmo composições diferentes, é melhor trabalhar com traço de médio a pesado. Se a formulação tiver componentes que aceleram o traço, como a manteiga de karité (alto conteúdo de acido esteárico) ou alguns óleos essenciais, é preferivel parar a agitação no traço leve

O tempo necessário para se obter o traço é função dos componentes da formulação, da temperatura do processo, da concentração da soda e do trabalho mecânico aplicado na agitação – com um mixer de cozinha é questão de poucos minutos, se for manual, com um batedor aramado, um pouco mais demorado.

Se a formulação contiver óleos com ácidos graxos saturados, como a manteiga de karité e a manteiga de cacau, o trace é mais rápido. Os que tiverem monoinsaturados ou poliinsaturados, como o óleo de oliva e o de girassol, o tempo é maior. Temperatura maior, reação mais rápida e traço mais rápido e igualmente para a concentração da soda.

Qual é o fenômeno físico-químico que acontece no traço?

Todos já devem ter observado que ao misturar óleo com a água ou vice-versa, no repouso a água e o óleo se separam, formando camadas distintas, o óleo por cima (menor peso específico) e  água por baixo.

O que é preciso para que o óleo e a água se misturem estávelmente?

O modo mais simples é usar produtos chamados surfactantes, tensoativos ou mesmo emulsificantes. São moléculas que possuem um caracter anfifílico, isto é, uma estrutura parte polar e hidrofílica e outra apolar e hidrofóbica.
O sabão é uma surfactante do tipo aniônico, ioniza-se em solução aquosa liberando ânions.

 

Acima uma representação esteroquímica de uma molécula de sabão, com a cabeça hidrofílica do sal de sódio ou potássio e uma cauda hidrofóbica ou lipofílica do ácido graxo do óleo. A cabeça hidrofóbica se liga à água e a cauda à parte do hidrocarboneto do ácido graxo do óleo. Essa afinidade cria a emulsão compatibilizando numa estrutura estável o óleo e a água.

 Então quando se mistura a solução de soda ao óleo, numa situação inicial hipotética para explicar melhor o fenômeno físico-químico onde se supõe que se forme uma interface água-óleo, nesta interface haverá o início da formação de sabão pela reação de saponificação. Se mantida esta situação de repouso, a reação será interrompida pela barreira física e falta de contato entre a solução de soda e o óleo.

Se aplicarmos uma agitação mecânica a este início de saponificação, haverá uma quebra na barreira física e e o contato entre a solução de soda e o óleo será intensificado pelo aumento da área superficial de contato – quebra em micro-partículas. Terá inicio a emulsão e então o nosso conhecido fenômeno do traço

 

Essa seria a representação da emulsão formada entre a água e o óleo por meio da ação surfactante do sabão que começa a se formar.

A emulsão formada pelo surfactante inicial, o sabão e pela ajuda da ação mecânica do mexedor, expõe o contato íntimo da soda com o óleo que é refletida no aumento da viscosidade, da consistência da massa, pela reação de saponificação. Ao contrário do que muito se lê, a saponificação no traço não passa de 10%, isto é, no traço ainda a reação de saponificação é bem inicial, tem muita soda livre, que vai ser processada no molde e nos proximos três ou pouco mais dias do início da secagem.

 

O que usar para colorir os sabonetes cold process?

Três características devem ser consideradas na escolha de materiais para dar cor aos sabonetes feitos por cold process. Os materiais colorantes devem, em primeiro lugar, serem inertes à pele, isto é, não devem provocar nenhuma reação adversa em contato com a pele. Devem ser resistentes ao meio alcalino da reação de saponificação do cold process e devem ser resistentes à luz, não devem desbotar e perder a cor quando o sabonete é exposto à luz.

Para atender o primeiro requisito, a melhor opção é usar os materiais aprovados pelo FDA (Food and Drug Adminstration) americano para uso em cosméticos. Associando este primeiro requisito com os demais, restam poucas alternativas e normalmente recaem na classe dos pigmentos, a maioria inorgânicos e sintéticos.

  • Óxido de ferro – preto, vermelho, amarelo, ocre
  • Ultramarino – azul escuro, azul claro e violeta
  • Óxido de cromo – verde claro e verde escuro
  • Dióxido de titânio – branco
  • Óxido de zinco – branco, vermelho claro (calamina)
  • Ferrocianeto férrico – azul escuro
  • Mica – efeito perlescente de várias tonalidades

Esta classe de pigmentos são os aprovados pelo FDA, são resistentes ao cold process e não perdem a cor com o tempo.

Estes pigmentos são dificeis de serem encontrados nas quantidades pequenas que são usados na saboaria artesanal. Uma alternativa que eu uso é comprar estes pigmentos em lojas que vendem materiais para uso artísticos – os pintores usam para preparar as suas tintas. São vendidos em pequenas embalagens, inferior a 100g, custam caro mas rendem muito e a compra também pode ser feita cotizando com outros artesões. Uso das marcas Sennelier (francesa) e Mahler (fracionado no Brasil).

Além desses pigmentos podem ser usados as argilas naturais que não possuem o poder de tingimento dos pigmentos mas são fáceis de serem encontrados nas cores branca, verde, amarelo e rosa, estes dois últimos, tingidos, na sua preparação, com óxido de ferro. Para a cor preta uma opção é o uso do carvão de bambú que além do forte poder de tingimento tem suas propriedades condicionadoras da pele.

Uma outra opção é você fazer o seu proprio colorante, através da maceração de certas plantas com óleos que são normalmente usados no cold process. Um exemplo é a maceração de chá verde ou ervas de chimarrão para obter uma cor verde claro. Alguns componentes da própria formulação pode dar uma cor discreta ao seu sabonete, como o mel que dará uma cor creme ou o uso do leite de cabra que dependendo da temperatura do processo cold poderá dar uma cor creme ou marrom escuro ou ocre.

Importante enfatizar que a maioria dos corantes que se usam em alimentação e para colorir velas, são anilinas (azo componentes) que não resistem ao meio alcalino e também não tem resistência a luz e portanto não devem ser usados para dar cor aos sabonetes. Neste caso é sempre bom testar antes.

Uma última observação diz respeito a questão de pigmentos naturais versus sintéticos. Se você faz saboaria natural e não abre mão de só usar materias de origem natural, é entendível que você não vai querer usar um pigmento sintético (feito pelo homem). Acontece que o FDA só aprova pigmentos sintéticos porque os naturais podem estar contaminados com metais pesados (tóxicos) que não podem ser separados na sua extração e alguns realmente fazem mal à saúde, como o chumbo e o cadmio. A escolha é sua!

Na página de download coloquei arquivos com a relação dos materiais aprovados pelo FDA para uso em cosméticos e também o catálogo da Sennelier dos pigmentos artísticos. Em ambos estão assinalados os pigmentos que podem ser usados no cold process.

Durabilidade no uso do sabonete cold process

Uma propriedade importante de um sabonete feito por cold process é a sua durabilidade no uso. Um sabonete artesanal bem formulado, com um balanço de óleos adequado pode ser usado por um longo tempo, bem mais do que um sabonete industrializado. Sabonetes que gastam rápido, ficam moles no contato com a água, ficam gosmentos, não tem boa aceitação. O principal componente que confere dureza e durabilidade é o óleo de palma (ácido palmítico) e em menor grau, o óleo de côco (ácido láurico), que são os denominados óleos duros (hard oils).

Este sabonete de lavanda durou 20 dias com em média três banhos diários, usado por duas pessoas. Se manteve inteiro até o fim, colocado em uma saboneteira com boa drenagem de água. Tem na sua formulação a seguinte composição:
oliva/mamona/babaçú/palma – 30/5/30/35 e um sobre-engorduramento (superfatting) de 5%.

O óleo de palma pode ser sustentável?

Muito se tem falado das condições e consequências ruins da industria de óleo de palma mundo afora. Também se ouve falar das inúmeras ações desencadeiadas para minimizar estes efeitos negativos e fazer desta industria uma industria sustentável. O difícil é peneirar estas fartas informações na midia e ter uma visão clara e insenta de partidarismo. Este artigo foi publicado originalmente em 2011 na 2degreesnetwork e reimpresso em 2012 na makingitmagazine: http://www.makingitmagazine.net/?p=5467#bio .Achei interessante e traduzi, dá uma visão geral e procura ser isenta.

O óleo de palma pode ser sustentável?
Johanna Sorrell pergunta se a produção sustentável em grande escala de óleo de palma, é uma opção viável para a indústria de óleo de palma.

Cerca de 50 milhões de toneladas de óleo de palma são produzidas a cada ano, e com certeza esse número só vai subir. A demanda tem sido impulsionada pela produção, que no caso do óleo de palma, é quase seis vezes maior, por hectare,  do que o óleo de canola. Tendo em conta estes rendimentos excepcionais, os agricultores começaram a plantar palmeiras a um ritmo veloz, levantando preocupações sobre seus impactos ambientais e culturais. Como resultado, vários grupos de defesa acusaram o aumento da produção de óleo de palma por criação de práticas agrícolas prejudiciais, destruindo florestas vulneráveis e turfeiras, e ter consequências negativas para as culturas nativas. Hoje, cerca de 8% de óleo de palma é produzido por padrões “sustentáveis” que tentam mitigar os danos da produção em massa de óleo de palma por meio de métodos de produção menos invasivos. No entanto, a produção de óleo de palma sustentável pode ser mais caro e menos eficiente do que a produção tal como ela é.

A onipresença de óleo de palma
Nos últimos trinta anos, a produção do óleo de palma tem estado em um crescimento exponencial. Espera-se que o consumo anual do óleo de palma aumente de seus níveis atuais de 38 milhões de toneladas para 63 milhões de toneladas em 2015, e ascenderá à 77 milhões de toneladas até 2020. A Indonésia é o maior produtor mundial de óleo de palma, mas um número crescente de países estão se tornando concorrentes viáveis no mercado global de óleo de palma, incluindo Malásia, Colômbia, Brasil, Nigéria, Libéria, Tailândia e Uganda.

Um trabalhador aplica o herbicida Paraquat em uma plantação de óleo de palma, nos arredores de Kuala Lumpur. O Paraquat é proibido na União Europeia, no entanto, milhões de trabalhadores do campo em toda a Ásia usam o produto químico para matar ervas daninhas e como resultado, alguns enfrentam sérios riscos de saúde.

Este crescimento é impulsionado não só pelo custo-eficácia do óleo de palma, mas também pelas suas múltiplas aplicações no desenvolvimento e produção de uma variedade de gorduras e alimentos, como pães, leite condensado e em pó, batatas fritas, alimentos concentrados e suplementos para alimentação animal. O óleo de palma também atinge os não-comestíveis, como sabões, detergentes, cosméticos, velas, cola, tintas de impressão, lubrificantes para máquinas e biocombustíveis. Por ser usado em tal variedade de produtos, as indústrias que são altamente dependentes do óleo de palma,  seriam duramente pressionadas para encontrar uma alternativa adequada de alto rendimento e custo-eficaz.

 

 

Todos os fins  ou todos os problemas do óleo?
O rápido crescimento da indústria de óleo de palma tem trazido a degradação de grandes extensões de solos frágeis. A fim de produzir óleo de palma em escala, muitas plantações têm utilizado técnicas destrutivas de corte-e-queima transformando florestas em fileiras sem fim de palmeira de palma, substituindo os ecossistemas dinâmicos da floresta pela monocultura. Danos aos ecossistemas incluiem:

  • a destruição das florestas tropicais para dar lugar a nova produção de óleo de palma;
  • a descarga de efluentes das fábrica de óleo de palma que mata a fauna aquática;
  • o deslocamento de povos nativos e agricultores de subsistência;
  • a perda de habitat e a conseqüente perda de vida selvagem, com um impacto especialmente negativo sobre as populações globais de orangotangos, e
  • a queima e drenagem de grandes extensões de terras de turfa, que são importantes absorvedores de CO2.

Certas corporações, tanto produtores como compradores, têm sido alvo de organizações de defesa pelo seu envolvimento, direto ou indireto, em tais práticas. Campanhas de marketing social têm se mostrado muito eficazes em iniciar modificação de comportamentos de compras corporativas e de sourcing, um exemplo é o vídeo do Greenpeace viral Kit Kat pedindo para a Nestlé parar de comprar óleo de palma de terras das florestas destruídas. Como resultado da campanha, a Nestlé imediatamente parou de comprar óleo de palma da Sinar Mas (maior empresa de óleo de palma e polpa da Indonésia, um plantador  que o Greenpeace afirma abertamente que destrói a floresta para expandir as plantações de palmeiras). A Nestlé também conectou se à The Forest Trust (uma instituição de auxílio que trabalha para deter o corte ilegal pelo rastreamento dos produtos de consumo à sua fonte), que irá ajuda-la nas orientações para a compra de óleo de palma mais sustentável. A Nestlé esta comprando 18% do seu óleo de palma de fontes “verdes”, e deverá chegar a 50% até o final de 2011, e tem planos para comprar todo o seu óleo de palma de fontes ambientalmente amigáveis em 2015.

A sustentabilidade é uma opção?
Embora os impactos ambientais e sociais da produção de óleo de palma tem sido fortemente criticado por uma série de partes interessadas, as previsões sombrias e melancólicas podem ser ainda evitados com a implementação de práticas de sustentabilidade que estão em andamento através de esforços concentrados dos setores com e sem fins lucrativos.

Criar o acesso à informação é um componente chave de mudança para muitas organizações ao tentar influenciar uma mudança no comportamento das empresas. Por exemplo, em 2009, o WWF produziu o Oil Buyer Scorecard, essencialmente expondo muitos grandes compradores de óleo de palma que alegaram métodos eco-conscientes de compra, mas ainda não conseguiram cumprir seus próprios padrões.

Muitas grandes empresas começaram a trocar sua produção e compra de óleo de palma para atender grupos de defesa e os interesses dos consumidores. Por exemplo, como parte da Avon’s Hello Green Tomorrow Initiative, a empresa anunciou a Palm Oil Promise – um compromisso global da empresa pelo óleo de palma sustentável, que compromete comprar 100% de óleo de palma sustentável certificada. Outras orientações de sustentabilidade surgiram ao longo dos últimos anos, e as partes interessadas da indústria de grande escala estão começando a implementar normas estabelecidas por essas organizações. O grupo principal – Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO) – tem trabalhado no sentido de criar, colaborativamente, um conjunto de normas globais para orientar a indústria de óleo de palma em direção à sustentabilidade. Atualmente, a RSPO tem mais de 400 membros, incluindo ONGs, investidores, produtores de óleo de palma, e grandes corporações, incluindo Unilever, a Cognis, e IOI.

Embora a RSPO seja a maior organização de responsabilidade sobre a sustentabilidade da indústria de óleo de palma, é também uma organização baseada em grande parte em normas voluntárias. Sem surpresa, numerosas organizações ativistas acusam a RSPO de “etiqueta-verde “, e identificam que vê lacunas importantes nos princípios e critérios estabelecidos nas normas criadas pela RSPO. Por exemplo;

  • Friends of the Earth acusou a RSPO de ser uma “ferramenta limitada de tecnicidade”, que não é capaz de tratar adequadamente os impactos terríveis do cultivo de óleo de palma sobre as florestas, terras e comunidades”;
  • Greenpeace é tanto defensor como crítico da RSPO, mas notou o desmatamento contínuo por empresas que são membros da RSPO e
  • A Rainforest Action Network também apoia os esforços determinados da RSPO, mas expressou insatisfação intensa com alguns dos processos da RSPO.

Criar e falar sobre padrões é uma coisa, implementá-las é outra história. Para endereçar isso, o GreenPalm, um programa negociado de certificados, desenhado para ajudar a garantir a produção sustentável de óleo de palma, já foi iniciada. GreenPalm serve como uma forma de “meio de campo”, ajudando os compradores de óleo de palma a comprar créditos de certificados para “compensar” as suas compras, principalmente devido ao fato de que comprar diretamente de uma fonte segregada de óleo de palma produzido de forma sustentável, muitas vezes é extremamente difícil. Cada crédito comprado representa um prêmio pago aos produtores sustentáveis para uma tonelada de óleo de palma, ajudando a garantir e reforçar a sustentabilidade da cadeia de suprimento. Embora esses sistemas estejam longe de serem perfeitos, eles estão evoluindo como ferramentas na responsabilidade pela produção mais sustentável do óleo de palma., e esperamos que continue a evoluir realmente e atinja padrões sustentáveis do plantio à compras.

Para onde vamos a partir daqui?
A maior demanda e o maior consumo, juntamente com a falta de terras disponíveis devido à concorrência com outras culturas, e a disputa com as partes interessadas, farão a produção de óleo de palma mais difícil no futuro. Sem um fim de curto prazo à vista para a crescente demanda por óleo de palma, pemanecerá a dúvida se a indústria de óleo de palma será capaz de manter os atuais níveis de produção, se as medidas de sustentabilidade forem aplicados em toda a cadeia, que causa preocupações da industria com os grandes investimentos necessários. A educação dos consumidores e da indústria, bem como as oportunidades para engajamento em todos os níveis, vão desempenhar um papel importante pois a produção inevitavelmente continua – de forma sustentável ou não.

Óleo de palma e palmiste

Uma dúvida recorrente sobre os óleos diz respeito ao óleo de palma. Muitos tem dúvidas o que é o que na profusão de óleo de palma que se encontram no mercado.  Palma, dendê, palma bruto, palma refinado, oleina de palma, estearina de palma, palma orgânico, palmiste, são as denominações referentes aos óleos obtidos dos frutos da palmeira Elaeis guineensis, também conhecido como dendezeiro. A Elaeis guineesis é nativa na região tropical, aproximadamente 10 graus acima e abaixo da linha do equador. No Brasil, na região amazonica, com grandes áreas de cultivo nos estados do Pará, Amazônia e em menor escala na Bahia

Elaeis guineesis

Os maiores produtores são a Indonésia, Malásia, Nigéria e Colômbia. O Brasil ocupa a posição de 13° produtor mundial.

Uma característica peculiar do fruto do dendezeiro é que ela produz dois tipos de óleo: da polpa (mesocarpo) é extraido o óleo de palma e da semente o óleo de palmiste (PKO – palm kernel oil). A composição de ácidos graxos destes óleos são completamente diferentes. No óleo de palma predominam o palmítico e o oleico e no palmiste, o laurico e o mirístico, sendo este muito semelhante ao côco e côco de babaçú.

Fruto da Elaeis guineesis, palmeira de palma

A polpa e consequentemente o óleo de palma bruto, tem uma cor amarelo a laranja-avermelhado atribuida à quantidades de carotenóides no fruto e também ao nível de oxidação que a fruta sofreu ao ser mantida estocada antes de ser processada

 

 

 

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Renomado sabão de Aleppo vítima do conflito na Síria

O conflito na Síria tem afetado a fabricação do sabão de Aleppo. Fiz a tradução deste artigo da AFP publicado em 4 de outubro de 2012 no site: http://www.france24.com/en/20121004-renowned-aleppo-soap-victim-syria-conflict.

“O sabão de Aleppo é famoso no mundo inteiro pela sua hidratação e propriedades  relaxantes,  mas os entusiastas vão achar difícil encontrar agora que a guerra na Síria trouxe uma parada nas exportações, diz um fabricante.

E Juan Semo, um curdo de 33 anos de idade, cuja família está no negócio de fabricação do sabão desde 1850, disse que a perspectiva é ainda pior, pois os preços do óleo de louro e da soda dispararam.

Em um armazém na colina, coberta de oilveiras, de Afrin há caixas e caixas de barras de sabão embalados individualmente.

“Nós não pudemos produzir qualquer sabonete este ano”, disse Semo à AFP. “Nosso estoque tem crescido mais e mais, porque todas as lojas em Aleppo fecharam e as rotas para exportar nossos produtos, especialmente para o norte do Iraque e para a França, estão cortadas.”

Aleppo, a segunda cidade da Síria e centro comercial, tem sido abalada por intensos combates entre rebeldes e forças do regime desde meados de julho. Tornou-se o ponto focal do conflito, tornando as entregas extremamente difícil.

“Nós estamos usando as estradas secundárias para as entregas, evitando o exército e o seu bombardeios por ficar fora das rotas principais. Mas muitos de nossos clientes fugiram de Aleppo de qualquer maneira”, diz Semo.

Semo saiu de sua casa no bairro de Salaheddin  “quando as balas atingiram minha sala de estar e os tanques começaram a rolar passando pelas minhas janelas.”

Ele voltou para sua família em Afrin, um enclave curdo de 360 aldeias que até agora se manteve neutro desde a revolta contra o regime sírio que começou em março do ano passado.

Antes da guerra, o sabão que estava sendo exportado para Paris, deixava Aleppo e ia até o porto de Latakia para ser enviado para Marselha, seu destino final.

Latakia é um reduto dos alauítas, um ramo do Islão da elite xiita a que o presidente Bashar al-Assad, no poder,  pertence que é uma minoria na Síria, enquanto a rebelião é liderada pela maioria sunita do país.

Quinze  fabricantes de Afrin enfrentam o obstáculo adicional de altíssimos custos das matérias-primas, devido à disparada da inflação.

O sabão de maior qualidade contém uma elevada percentagem do caro óleo de louro e é destinada à exportação. A versão mais simples, com uma maior proporção de óleo de oliva, vai para a Aleppo próxima.

A família Semo produzir seu óleo de oliva graças ao sítio  com dezenas de milhares de oliveiras, mas o óleo de louro e a soda tem que ser importados.

“Mesmo se eu conseguisse o óleo de louro de Antakya, na Turquia, seu preço dobrou no ano passado”, diz Semo.

O mesmo é o caso da soda, que ele recebe do Kuwait, Iraque ou da China. O custo para um litro  dobrou para 50 libras sírias (US$ 0,73 / 0,57 euros).

Antes da guerra, ele exportava 50 toneladas de sabão por ano e produzia 250 toneladas para o mercado sírio. O armazém agora contém 150 toneladas.

O sabão não se deterioram tão cedo, ele realmente melhora na qualidade com o  envelhecimento e secagem ao longo de seis anos. Mas Semo disse que não sabe quanto tempo vai durar o conflito. Por enquanto, ele não tem nenhuma fonte de renda estável, acrescenta.

No início de outubro, amadurece as azeitonas. Todo o processo, desde a colheita até a fabricação do sabão acabado, leva quatro meses.

Cinco ou seis pessoas são necessárias para escolher as azeitonas, que são então pressionados num grande extrator para extrair o óleo, misturados com os outros produtos, a partir do qual o sabão em si é eventualmente produzido em torno de Fevereiro.

O problema é que a fabricação de sabão exige trabalhadores especializados de Alepo.

“Eu não sei se eles vão ser capazes de chegar este ano” por causa do conflito, diz Semo.

Seu vizinho, Ahmad Kefo, um homem mais velho que ostenta o bigode espesso usado por muitos homens na região curda, suspira , enquanto oferece pistache frescos e romãs.

“Esta situação vai durar um longo tempo. Este ano, vou parar 80% da minha produção de sabão”, lamenta ele.”

 

 

Sabonete líquido vegetal – ajuda

Estive tentando desenvolver um processo mais produtivo e mais fácil para fazer o sabonete líquido vegetal. Mesmo usando uma panela de cozimento lento, o processo hot é trabalhoso, demorado e de baixa produtividade. Vendo o vídeo da Vermont Soap que mostra o processo deles para fazer o sabonete líquido de oliva, achei que seria possível fazer um processo semelhante para pequena escala do artesanato.

Fiz um monte de experiências e não consegui fazer um processo que tivesse boa repetividade e reprodutividade. Isto é, cada vez que você faz, você obtém um resultado, inclusive, um resultado perfeito.

O principal defeito, o que mais ocorre é este sobrenadante de cor branca que fica, após o repouso, na superfície do sabão. Analisando este defeito constata-se que é óleo que não reagiu, envolto por uma camada emulsionada de óleo.

Usei este equipamento improvisado, um recipiente para a reação, um agitador mecânico com controle digital de rpm, um dosador de solução de KOH, termômetros, e uma chapa de aquecimento.

Se alguém conhece um processo semelhante de fazer sabonete líquido vegetal e quiser compartilhar, agradeço antecipadamente.

Roberto Akira