Sabão batido – whipped soap

 

P1030182P1030183Em 2007 um saboeiro de nome Nizzy (Terry Nisbet) da Austrália, popularizou um modo diferente de fazer sabão, que consiste em bater os óleos sólidos em uma batedeira de cozinha, dessas de fazer bolos ou bater o creme chantilly. A idéia é incorporar ar na massa de óleos saturados (sólidos),  acrescentar os óleos insaturados (líquidos), adicionar a soda e depois as fragâncias e os aditivos. O processo é um cold process normal feito na temperatura ambiente e com a diferênça na fase de incorporar o ar com a batedeira.

O fundamental da formulação é ter uma proporção de pelo menos 80% de óleos sólidos (saturados) que podem ser: palma, babaçú, palmiste, manteiga de cacau, manteiga de karité, cupuaçu, ucuúba, etc, e 20% de qualquer óleo insaturado (líquido) para dar as propriedades condicionadoras ao sabão.

Todo o processo é feito na temperatura ambiente ou mais frio, costumo fazer a uns 10 a 15ºC  pois eu derreto os óleos sólidos para misturar bem e depois coloco na geladeira para solidificar. O importante é manter os óleos sólidos, caso contrário não é possível bater para virar um creme aerado. Essa aeração faz com que esse tipo de sabão quando colocado na água, não afunda, ele flutua. Também tem maior volume por peso devido a oclusão de ar. Como o cold é feito à baixa temperatura, a saponificação é lenta e dificilmente ocorre a fase gel. O ar ocluido também retarda a saponificação e permite com isso um tempo maior para fazer o sabão. Costumo dizer que o sabão batido é ótimo porque não precisa de correria, não tem afobação, nao tem o ponto de trace, é o sabão sem stress!

OP Sabao Batido Whipped Padrao Blog 520pxAqui a fórmula com as instruções do processo.

P1030109No sentido horário, os pigmentos usados como colorantes, dispersos em 10g de glicerina vegetal, a mistura de óleos essenciais, a solução a 28% de soda que foi resfriado a 10ºC, a mistura de oliva e mamona e o saco plástico com os óleos sólidos que foram derretidos e depois mantido por 2 horas na geladeira para solidificar parcialmente.

P1030111A mistura de óleos sólidos parcialmente solidificados.

P1030112Inicio de incorporar o ar usando uma batedeira muito simples (made in China) mas barata, versátil e robusta, permite usar uma ou duas hastes e também pode ser destacado do suporte e seguro pela mão, o efeito planetário é obtido girando o bowl com as mãos.

P1030118Depois de aproximadamente 10 minutos batendo em velocidade alta o aspecto é esse, parecido com um creme areado.

P1030124É o momento de adicionar a mistura de óleos insaturados, lentamente para evitar ao mínimo a diminuição da aeração.

P1030127A soda é adicionada bem lentamente e com cuidados para evitar respingos para fora do recipiente. Se nota o aumento de volume devido ao ar ocluido.

P1030128Depois da adição da soda a massa é batida por mais 10 minutos em media, isso garante uma boa mistura da soda com os óleos e nem se percebe o traço por causa da aeração.

P1030130Adiciona-se os óleo essenciais lentamente para nao derrubar a aeração

P1030132No caso eu dividi a massa em três partes para colorir com os pigmento branco, vermelho e azul.

P1030134Foi usado a técnica do swirl de colher. Como a reação é muito lenta, não há a preocupação de fazer rápido porque, diferente do cold normal onde o tempo é fator fundamental, no sabão batido a viscosidade da massa se manter por um bom tempo sem se modificar.

P1030141Swirl finalizado e pronto para ficar 24 horas para ser desmoldado.

P1030149O bloco tirado do molde depois de 24 horas. A evolução de calor da saponificação somente ocorreu depois de 12 horas do inicio do cold process, uma saponificação bastante lenta.

P1030154 RevP1030158O bloco posicionado no novo cortador múltiplo (este é ainda um protótipo, em breve estarei vendendo este cortador e um outro tipo).

P1030165Cortados 12 barras de sabao.

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Sabão de coco natural – pronto! / Natural coconut soap – ready!

P1020965 RevP1020974Depois de três semanas está pronto o sabão de coco para uso na limpeza geral da casa, na cozinha e principalmente para lavar roupas.
After three weeks the coconut soap is ready for use in general cleaning of the house, especially the kitchen and for washing clothes.

etiquetas sabao cocoEsta é a etiqueta dos sabões, são 4 sabões identificados pela cor do + (mais) e foram impressos em papel reciclado.
This is the label of soaps, are 4 soaps identified by the color of the + (plus) and were printed on recycled paper (sorry, in portuguese only).

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Sabão de chocolate com gotas de menta e cacau

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Sabão formulado com óleo de palma/óleo de babaçú/óleo de oliva/óleo de mamona/manteiga de cacau – 30/30/30/5/5, com SF (superfating) de 5%, concentração de soda de 30%, 13% (s/o) de chocolate em barras com 70% de cacau e 0,7% (s/o) de cacau 100% em pó.
O sabao foi decorado com a técnica dos canudos com pigmento verde de cromio e dióxido de titânio para os spots verde e aroma de 3% (s/o) de óleo essencial de menta piperita. Nos spots cor de cacau o óxido de ferro vermelho foi tingido com óxido de ferro preto e dióxido de titânio e para dar aroma, óleo essencial de laranja doce 2% (s/o).

IMG_0491Foi feito este dispositivo que dispensa o uso da massa de modelagem para prender os canudos. Tem as medidas do molde e é encaixado no fundo do molde. As cavidades de 8.5 mm de diâmetro são para canudos de 8 mm e tem um profundidade de 12 mm.

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Este molde foi especialmente feito para possibilitar fazer de 6 até 24 barras de 9 x 6 cm (130g) usando a técnica dos canudos.

IMG_0653Como nesta decoração nao foi utilizada todas as cavidades, as que nao são usadas foram fechadas com fita adesiva (em azul).

IMG_0657O chocolate é misturado aos óleos e com a manteiga de cacau e derretidos no microondas.

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Para usar a técnica dos canudos é fundamental deixar um traço bem leve, onde é adicionado o cacau em pó.

IMG_0663Com o traço leve é possível nivelar bem a massa de sabão no molde com os canudos. O molde fica na sua capacidade máxima pois a massa é para 24 barras.

IMG_0664Houve a formação de full gel com temperatura superficial de 42º C e depois de 6 horas os canudos foram retirados quando a temperatura abaixou para 32º C.

IMG_0668Apesar da alta temperatura gerada pela fase gel, não houve problemas de irregularidades na superfície tais como craqueamento ou rachaduras. Este formato do molde favorece o full gel quando utilizado na sua máxima capacidade. Foi feito a decoração de acordo com o descrito acima, com a massa em traço muito leve.

IMG_0669Como revestimento do molde foi usado um plástico chamado opalina que é utilizado para fazer cúpulas de abajures. Excelente plástico para esta finalidade.

IMG_0680Utilizando o cortador vertical, foi cortado 3 mm do topo da barra para eliminar as imperfeições devido ao enchimento das cavidades.

IMG_0689Com o cortador vertical a barra foi cortada em 4 barras menores com a espessura de 23 mm.

IMG_0691Todas as barras menores cortadas, nenhuma imperfeição.

IMG_0714As barras individuais foram cortadas com o cortador individual, ao todo 24 barras tamanho padrão de 6 x 9 cm.

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Sabão de coco 100% – corpo & banho

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Normalmente um sabão com 100% de óleo de coco (coco da praia,  babaçú ou palmiste)  é usado para limpeza geral, lava roupas ou louças, isso porque o laurato de sódio em excesso é agressivo e as vezes irritante para a pele. Costuma se limitar a a faixa de segurança da quantidade de óleo de coco à 35% quando o sabao é usado no corpo.
A saboaria americana descobriu que um sabão 100% coco com um sobreengorduramento (superfatting) de 20% ou mais deixa de ser agressivo e fornece um sabão de excelente qualidade para a pele, perde a sua agressividade e sendo somente com coco, produz uma espuma extremamente abundante e agradável.

Este sabão foi feito com 100% de óleo de babaçú orgânico, com superfatting de 20%, concentração de soda de 30% e como líquidos foi usado 50% de leite de coco e 50% de água de coco, congelados,  para a diluição da soda. Como fragancia foi usado o óleo essencial de Massoia (Cryptocarya massoia) que tem aroma intenso de coco, e um fundo de canela. Esse óleo é de origem da Indonésia.

IMG_0579O leite de coco foi misturado com a água de coco e esta mistura foi congelada por que queria ter o mínimo de carbonização e manter a cor do sabão o mais claro possível. A soda foi adicionada sobre esta mistura congelada e agitada até completa dissolução. A temperatura depois da dissolução foi de 15º C.

IMG_0580O óleo de babaçú foi derretido no microondas e a temperatura ficou em 54º C.

IMG_0584Na mistura da solução de soda e o óleo de babaçu, a temperatura ficou em 34º C, uma temperatura boa para se ter uma trace leve e evitar um gel muito intenso. Foi usado um batedor aramado, nao foi preciso usar o mixer. Foi adicionado no traço bem leve,  0,3% (s/o) do óleo essencial de massoia.

IMG_0587O molde é de silicone e os canudos são para se obter o efeito decorativo das bolinhas.

IMG_0594Os canudos foram retirados e as cavidades foram preenchidas com massa de sabão de coco azul (azul ultramarino), depois de 6 horas, após o desenvolvimento do full gel, cuja temperatura máxima chegou a 38º C medida na superfície, no meio do bloco.

IMG_0598IMG_0599O bloco foi cortado ao meio na horizontal para gerar 4 barras de  9 x 7,5 cm de 200g cada.

IMG_0609IMG_0619Aqui está as barras de sabão de coco 100% para corpo e banho com um aroma fabuloso de coco e canela e tem razão a minha amiga Ane Walsh, que me forneceu o massoia, um cheiro de delicioso de cocada!!

 

 

Bonita decoração … bonito defeito!

IMG_0569IMG_0566Quando fiz o sabão dominó, a primeira tentativa foi um fracasso só.  O súbito aumento da viscosidade depois do traço, no momento de verter no molde,  acabou por derrubar os canudos porque a massa não tinha fluidez, acumulou no centro, ganhou altura e depois espalhou arrastando os canudos.
Para nao perder a massa de sabão retirei os canudos e coloquei as duas partes (ia usar dois moldes) num molde só. Observei que houve a formação de um gel intenso e depois que desenformei 24 horas após, já dava para notar este desenho na parte superior do bloco e quando cortei vi que o bloco todo estava com este desenho diferente e bonito, que lembra o mámore travertino.

Observem que não é uma decoração, algo que foi planejado para dar este efeito, é um defeito, bonito, mas um defeito. Vamos então à explicação do que aconteceu, dentro de um entendimento razoável do fenômeno.
O traço foi acelerado por que usei uma mistura de óleos essenciais – limão siciliano, eucalipto estageriana e citronela, 3% (s/o)  em partes iguais e um deles, o limão siciliano,  potencializou essa aceleração do traço. Quando adicionei na massa e senti que havia uma interação, imediatamente parei de homogenizar, dividi a massa em duas partes e verti o volume menor no molde pequeno, mas já era tarde a viscosidade era inapropriada para fazer o petit poás, que acabou derrubando os canudos.

Como juntei tudo num molde só para não perder o sabão, a massa (4,3 kg) ocupou quase inteiramente o molde. Esta situação de molde (18 x 30 x 8 cm), e o volume ocupado pela massa é uma relação propícia para o desenvolvimento da fase gel com grande intensidade. O molde com MDF de 20 mm e com tampa, é um ótimo isolante térmico, pouco calor é perdido.

Na maioria das vezes eu obtenho gel parcial neste molde, mas desta vez o gel foi completo devido ao maior volume de massa. Você nota o gel parcial pela diferença de cor, mais escura no centro e mais clara nas bordas. As vezes é difícil observar o gel completo, não existem essas diferenças que podem ser notadas. Mas qualquer que seja o gel nada se assemelha ao desenho obtido neste sabão, mas o gel é fundamental para ter este efeito, este defeito.

Vamos entender o que é o gel. Quando as condições de emulsificação (traço) está completa, a reação de saponificação começa a ser continua, e gera calor pois a reação química de saponificação é exotérmica. Este calor é dissipado nas bordas e na superfíce da massa do sabão, mas é no meio onde as condições são perfeitas para acumular calor – dissipa menos calor, e neste ponto o aumento da temperatura é substancial. As moléculas líquido cristalinas adquirem mobilidade e há a formação de um gradiente de temperatura do meio para os extremos que você pode ver através da mudança de cor e em alguns casos, o local fica translúcido e também da viscosidade, que diminui. Muitas vezes este gradiente formado vai perdendo o calor e a reação também diminui, não fornecendo mais calor suficiente para manter o gradiente e assim o gel cessa, formando um gel parcial. Quando a reação é longa (maior massa de sabão), e a perda de calor é inibida, o gel se propaga e tem-se o gel total.

Quando senti que a mistura de óleos essenciais estava acelerando o traço, parei de homogenizar e esse tempo de mistura não foi suficiente para mistura bem, incorporar, os óleos na emulsão. Quando da formação de gel, a propagação do gradiente de temperatura, encontra pela frente não um meio homogêneo e sim locais com concentraçoes diferentes de massa de sabão e mistura de óleo esenciais. Esta descontinuidade do meio fez com que o gel deixasse rastro na forma dos desenhos que deu o efeito parecido a uma decoração planejada. Arrisco dizer que neste gradiente do gel houve até um transporte de massa, um deslocamento físico de massa, de massa de óleos essenciais, que enfatizou os desenhos. A cor também ficou alterada, uma cor bege e tem a mesma quantidade de dióxido de titânio  do sabão dominó, que ficou bem branco.

Já testei este sabão prematuramente e nada notei de anormal que me faz supor que a performance não mudou ou ficou comprometida.
Este sabão tem uma formulaçao básica de óleo de palma/babaçú/oliva/mamona – 35/30/30/5, SF de 5%, concentração da soda de 30% e dióxido de titânio (1% s/o)

Pois aí está, um bonito efeito provocado por um bonito defeito! Um efeito que quem sabe nunca poderá ser reproduzido exatamente, foi um momento único dos mistérios da química da saboaria.

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Tem uma matéria sobre gel, que pode ser visto aqui: https://japudo.com.br/saboaria/quimica/.

 

 

A importância da concentração de soda

Quando se quer calcular a quantidade de álcali (soda ou potassa) necessária para saponificar uma determinada quantidade de óleo ou mistura de óleos, o cálculo é objetivo e direto. É um cálculo fundamentado na relação estequiométrica da reação de saponificação, uma reação química. Pode ser feito manualmente, necessitando conhecer o índice de saponificação (IS) de cada óleo ou com o uso das várias calculadoras que existem on-line.

Tendo a quantidade de álcali – vou me referir à soda para facilitar, surge a pergunta: quanto de água devo utilizar para fazer a solução para diluir a soda?

Muitas pessoas nem fazem esta pergunta porque utilizam as calculadoras e as duas principais, já fornecem um valor default.

No Soapcalc é 38% de água como percentagem dos óleos e o da Mendrulandia fornece 28% de concentração de soda.

As pessoas pegam esses valores e saem a fazer o sabão. Acontece que na maioria das vezes estes valores não são os ideais para fazer o sabão. O Soapcalc ainda faz uma ressalva que o seu valor padrão é para quem está iniciando e depois, adquirindo experiência, muda para outros patamares de maior concentração de soda. O da Mendrulandia faz um explicação envolvendo os tipos de óleos e a concentração a usar. O que é ruim é que em ambas as calculadoras estas explicações ficam perdidas no meio das instruções que a maioria não lêem.

O fato é que a quantidade de água é muito importante para a performance do sabão nas propriedades de dureza inicial e tempo de secagem inicial. Inicial porque curva de dureza e secagem ao longo do tempo, ao final se aproximam de um ponto em comum. Se deixarmos um sabão comum por, digamos, 6 semanas, independentemente da quantidade de água que foi usada para diluir a soda, todos terão uma dureza similar e estarão secos igualmente. Agora, se tomarmos a dureza e a quantidade de água presente no sabão na primeira semana, se notará uma diferença grande, significativa. E aqui é muito importante a concentração da solução de soda.

Existem três modos de se expressar a quantidade de soda e água quando se vai fazer um sabão artesanal:

1 – Água como percentagem dos óleos

2 – Razão água : soda

3 – Concentração percentual de soda

As duas primeiras na verdade são modos não científicos de se expressar a concentração de uma solução soluto/solvente. É como expressar medidas de massa/volume como colher de sopa, colher de chá, copos, que tem razões históricas por trás, quando os recursos hoje disponíveis eram raros e caros. Há 20 anos atrás, quem poderia comprar uma balança digital?

O mais correto é expressar como concentração percentual de soda. Explicita a quantidade de soda e água presente em 100g de solução.

Fiz uma tabela para mostrar que a concentração de soda pode ser otimizada de acordo com algumas característica do sabão que se quer fazer, sua composição de óleos, o conhecimento de quem vai fazer, do modo que se quer fazer o sabão e também da interferência de alguns óleos essenciais e aditivos.

Os valores abaixo de 25% e acima de 40% estão assinalados em vermelho porque estão em regiões não recomendada, podendo haver separação de líquidos abaixo de 25% e reação muito rápida acima de 40%.

Os principais óleos saturados também conhecidos como óleos duros (hard oils) são os que contém predominantemente, ácidos graxos saturados na sua composição:
óleo de côco, palmiste, babaçú, palma, manteiga de karité, manteiga de cacau, e o esteárico (ácido graxo)

Os principais óleos insaturados também conhecidos como óleos moles (soft oils) são os que contém predominantemente, ácidos graxos insaturados na sua composição:
óleo de oliva, girassol, canola, soja, amêndoas doce, abacate, semente de uvas, arroz e mamona.

Só vou citar os dois extremos da relação saturados/insaturados. No máximo de 100/zero da relação sat/insat está o sabão de côco 100%., cujo único óleo é o que contém o ácido graxo saturado laurico que pode ser o côco, palmiste e babaçú. O traço deste sabão é muito rápido e a saponificação é exotermica, isto é, gera muito calor. Aqui é preciso trabalhar com uma concentração baixa de soda (mais água) do que o normal, algo abaixo de 30%, o que favorece um maior controle do traço e também pode evitar rachaduras do sabão no molde.

O outro extremo  é o venerado sabão 100% azeite de oliva, cujo único componente é o óleo de oliva, que contém predominantemente o ácido graxo oleico, um monoinsaturado. Muitos fazem este sabão usando o valor default de 28% de concentração de soda na calculadora da Mendrulandia ou 38% de água sobre  % de óleos na calculadora do Soapcalc, que corresponde a 25% de concentração de soda.  Este valores de concentração de soda podem ser enormemente otimizados usando até 40% de conc. de soda.

 

 

Sabão Luso – uma homenagem a Portugal

Este é meu último sabão do semestre. Vou estar ausente por um bom tempo, uma viagem longa! Deixo aqui meus agradecimentos a este pessoal incrível de Portugal. Muito obrigado por fazer parte do grupo Saboaria.

Este sabão quadriculado é feito do modo mostrado na figura abaixo.

Foi usado uma fórmulação básica bastante simples. O importante é sempre trabalhar com traço bem leve para permitir um bom nivelamento entre camadas e é fundamental no alinhamento preciso das cores.

 

Sabão série swirl – swirl de colher

 O que é o swirl

Sabão com swirl se refere a uma técnica para decorar um sabão usando duas ou mais cores para colorir uma barra de sabão feita por cold process. O efeito obtido é muito variado de acordo com o tipo de técnica de swirl utilizada, sendo o padrão mais comum é o que se assemelha ao marmorizado.

Swirl de colher Branco e Preto

Swirl de colher amarelo e preto

Swirl de colher branco e verde

Swirl de colher branco e azul

Tipos de swirl

Existem inúmeros modos  de se fazer o swirl que as vezes envolve o uso de duas ou mais técnicas ao mesmo tempo, como por ex. troca e cabide. Podemos citar:

Colher (spoon) – como o nome  diz, são usados colheres para obter o efeito
Pote (pot) – a mistura de cores é feita dentro do recipiente de preparao do sabão
Cabide (hanger) – é usado um dispositivo de arame parecdido com um cabide
Funil (funnel) – usa-se um funil para obter um padrão concêntrico
Coluna (columm) – usa-se uma coluna de perfil quadrado, redondo ou triangular
Arcoiris (rainbow) – as cores são depositadas em camadas multicoloridas
Troca (swap) – o molde é dividido em duas partes de cada cor e depois misturado
Pavão (peacock) – é desenhado figuras que lembra as penas do pavão
No molde (in the mold) – o swirl é feito no molde de vários modos

Condições para se fazer um swirl

É fundamental que se tenha um controle sobre o traço. Em todas as técnicas de swirl  é necessário que a massa de sabão tenha fluidez, que a viscosidade do traço seja baixa a média para permitir o escoamento, a mistura e o assentamento das massas coloridas. Se o traço for muito viscoso, impossibilita obter os padrões de swirl.

Para ter o controle sobre o traço é necessário gerenciar a sua formulação de tal modo que ela seja livre de componentes que aceleram o traço. A proporção de óleos com ácidos graxos saturados/insaturados deve ser mantida baixa na medida do possível, deve-se evitar aditivos que possam acelerar o traço como a cera de abelhas e conhecer o comportamentos dos óleos essenciais, evitando aqueles que aceleram o traço.

Em termos de processo, trabalhar em condições que minimizem a aceleração dos traço. Trabalhar com concentração baixa de soda, isto é, quanto mais água, melhor. As concentrações de 25% a 30% são os limites, sendo o ideal 28%. Manter a temperatura dos óleos e soda baixas, abaixo de 30° C.
O uso do mixer deve ser feito com muita cautela, precisa ter experiência e domínio do seu uso.

Colorantes a usar no swirl

De preferência usar colorantes que são especialmente formulados para essa finalidade. Normalmente são líquidos e soluveis em água e facilmente dispersos na massa de sabão e permanentes, não desbotam ou mudam de cor na soda e tem resistência a luz. Este colorantes não são encontrados por aqui, precisam ser importados.

Um alternativa viável seria o uso de pigmentos e argilas. A maioria dos pigmentos são de difícil dispersão, precisam primeiro um pre-mix  com um pouco de óleos para desagregar, com o risco de formar pontos e grumos na massa.
Veja mais sobre colorantes para sabão neste post:
https://japudo.com.br/2013/01/10/o-que-usar-para-colorir-os-sabonetes-cold-process/

Técnica de swirl – colher

Quem sabe esta técnica seja a mais simples e fácil de fazer um swirl.
Normalmente é usado em swirl de duas cores e os passos são:

1 – prepare o sabão deixando no traço mínimo, adicione as fragâncias e os aditivos, se for o caso,
2 – divida a massa em duas partes propocionais ou não dependendo do efeito desejado.
3 – misture em cada parte o colorante escolhido e misture bem. Se necessário use o mixer, mas com cautela.
4 – use uma colher de sopa pequena para cada cor e vá adicionando alternadamente no molde previamente preparado. Deposite cada colherada de uma cor deixando um espaço, não sobreponha, e deixe rastros entre uma deposição e outra. Siga com outra cor, formando camadas, até completar o molde.
5 – bata o molde para assentar a massa e eliminar vazios e bolhas

Melhor do que ler, é ver. Existem dezenas de vídeos que mostram as técnicas de swirl, é só pesquisar e assistir.

A formulação do sabão é bem básica, somente três óleos que dão as propriedades normais de um sabão balanceado. No caso do sabão amarelo e preto foi usado o óleo de palma bruto (azeite de dendê) no lugar do palma para dar a cor amarela.

 

 

Shampoo em barra cabelo oleoso e corpo

Nesta formulação foram mantidos todos os óleos do shampoo em barra cabelo e corpo, que é mais indicado para cabelos normais e finos. Foi acrescentado 15% de óleo de côco ou babaçú ou palmiste, o que fica bastante adequado para cabelos oleosos devido a ação de limpeza destes óleos. Pela quantidade baixa, a ação de limpeza será bem suave mantendo as propriedades emolientes deste tipo de shampoo.

Para obter a cor rosa claro foi adicionado calamina, um mineral de óxido de zinco com uma pequena quantidade de óxido de ferro, que tem uma cor rosa pália e ação terapeutica  no condicionamento da pele. A cor normalmente se acentua um pouco à medida que o sabão seca.

clique aqui para fazer o download da fórmula

 

 

Sabão de enxofre – uma experimentação

Por muitos anos o sabonete contendo enxofre é reconhecido como eficaz no tratamento de uma variedade de condições de pele, notadamente na redução de acnes. Aqui no Brasil a marca mais conhecida é a Granado, Confiânça em Portugal e Dr. Kauffman nos USA.

Costuma ser oferecido com duas dosagens de enxofre, normalmente 10% e 4% e também com adição de ácido salicílico. Tem testemunhos de pessoas com pele muito oleosa que costuma tomar o banho diário com o de 10% de enxofre. A recomendação no tratamento de acnes severas é desenvolver a espuma e passar essa espuma na região afetada e deixar agir por alguns minutos.

Resolvi tentar fazer este tipo de produto na saboaria artesanal. Na pesquisa que efetuei nada encontrei em lugar algum que tivesse uma referência de como fazer sabão de enxofre no escopo artesanal. Os produtos comerciais imagino que seja uma massa básica de sabão que é adicionado o enxofre e extrussado normalmente.

Uma ressalva, como o título do post diz, essa é uma experimentação que fiz e portanto muitos pontos ainda estão na esfera de experiência e não estão totalmente esclarecidas. Se você quiser duplicar, fica por sua conta e risco.

Cold Process

Optei por iniciar pelo cold process usando as duas dosagens de enxofre, 4 e 10%.
A primeira dúvida, como adicionar o enxofre. Dois modos, ou misturar nos óleos ou adicionar no trace. O enxofre é absolutamente insolúvel na água e com uma agravante, nem sequer é possível dispersar na água, simplesmente não mistura e nem é molhado pela água, fica sempre sobrenadante. Também não é solúvel em óleos, é mais tolerante quanto à molhabilidade, mas não dispersa bem nos óleos.
Escolhi adicionar no trace porque se já é difícil dispersar nos óleos, imagina misturar na massa engrossando no trace.

Depois de 24 horas, no momento de desmoldar, o sabão com 4 % de enxofre estava completamente mole que não era possível manusear e foi preciso esperar 48 horas, mas mesmo assim o sabão continuava mole e assim ficou até o final de 20 dias. A princípio não consegui entender o que ocorreu neste sabão que ficou muito mole e gorduroso, sinal de que não todo os óleos saponificaram.
O sabão de 10% estava normal, com uma dureza razoável e foi possível cortar em seguida.

Este sabão com 10% de enxofre à medida que secava começou a desenvolver manchas nas superfície do sabão. Essas manchas é do pó de  enxofre que migrou para a superfície do sabão.

Essas manchas podem ser removidas com raspagem e elas não tem tendência a retornar.

Este sabão com 10% de enxofre, feito por cold process tem característica boas, tem dureza, faz uma boa espuma e a sua propriedade de limpeza é extremamente alta, apropriada para uma pele muito oleosa, típica de um sabão de enxofre.

O sabão com 4% de enxofre continua mole depois de 20 dias e o interessante é que formou uma camada externa de cor amarelada e o interior adquiriu uma cor marrom bem escura. Essa camada de cor amarelada  é provavelmente óleos que não saponificaram. Isso pode ser por falta de soda que pode ter sido consumida em alguma interação com o enxofre, por mais estranho que possa parecer. Este sabão não deu certo e será descartado.

Clique aqui para fazer o download da fórmula

Hot Process

Alterei a formulação para economizar os óleos caros e fiz uma fórmula bem simples  retirando o óleo de abacate e a manteiga de karité e aumentando o oliva e o mamona. O processo utilizado foi um hot process convencional com uso da panela de cozimento lento (crock pot). A fase gel translúcido foi obtida com 2 horas de cozimento. Dividi a massa, uma parte em um banho-maria e a outra permaneceu na panela de cozimento lento. Nesta do banho maria foi adicionado 10% de enxofre e na outra os 4%.

Em ambos os casos foi muito difícil incorporar o enxofre na massa do hot process. Forma se grumos de difícil dispersão, mesmo adicionando mais água quente à massa.

Neste de 4% de enxofre que foi adicionado na massa que permaneceu na panela, no fundo da panela, onde a temperatura é maior, o enxofre fundiu e formou grumos de cor castanho escuro, típica do enxofre fundido. O enxofre tem um ponto de fusão ao redor de 112° C e forma um líquido de alta viscosidade e de cor castanho escuro.
Os pontos brancos são da massa de sabão que não foi misturado com o enxofre.

Os dois sabões de enxofre por hot process tem boas propriedades em geral apesar do aspecto não muito uniforme, devido aos pontos brancos da massa não misturada com o enxofre e dos pontos escuros devido à fusão do enxofre.

clique aqui para fazer o download da fórmula

Conclusão

Comparando a cor do sabão feitos com os dois métodos é possível inferir que existe uma interação entre a soda e o enxofre no cold process. A cor escura é produto desta interação, o que não acontece no hot process pois a saponificação já ocorreu quando da adição do enxofre e a cor se mantém como a cor natural do sabão, um pouco mais clara devido a própria cor do enxofre. O sabão com 4% por hot process a cor é mais escura comparado com o de 10% pelo mesmo processo porque houve uma pequena fusão de enxofre que tingiu um pouco o sabão.

Essa interação do enxofre com a soda somente é possível se existir um agente redutor que potencializa a reação da soda líquida com o enxofre. Pode ser que haja um redutor na mistura de óleos que possibilita esta reação. É só uma hipótese que carece de uma comprovação

A maior dificuldade está na incorporação do enxofre na massa de sabão de tal modo que fique uma mistura homogênea. Como a solubilidade e a dispersão do enxofre é nula tanto na água como nos óleos e muito dificil obter uma boa mistura. A agravante é que o enxofre tem uma forte tendência a formar grumos de difícil dispersão. Um modo para minimizar é peneirar o enxofre em uma malha fina antes de incorporar e adicionar lentamente, mexendo, se o processo permitir. Outra dificuldade é a fusão do enxofre que gera um líquido viscoso de cor castanho escuro que acaba por contaminar o sabão quando feito por hot process se a temparatura subir demasiadamente.

O sabão com 4% de enxofre por cold process precisa ser repetido para determinar a causa do amolecimento e do excesso de óleos sem saponificar. Posso ter cometido algum erro que me foge à percepção, pois é muito estranho o ocorrido que me fez descartar o sabão.

Fica pendente também a eficácia deste sabão artesanal de enxofre com relação ao tratamento de acnes pois não foi possível até agora fazer os testes.

Shampoo de neem em barras

O óleo de Neem é conhecido por suas propriedades antibactérias e antifungos, mas também tem ação benéficas sobre algumas condições da pele como, acne, caspa, micose, psoríase e eczemas.

Esta é uma fórmula convencional de um shampoo para cabelos e também para o corpo, com predominância de óleo de abacate e oliva, ricos em oleico para um condicionamento suave da pele, palmiste em pequena quantidade para uma média ação de limpeza, palma para a dureza, mamona para a cremosidade e o óleo de neem com ação contra bactérias e fungos.

O óleo de neem tem um odor característico e pungente que foi minimizado com a mistura de óleos essencias de lavandin, litsea cubeba, tea tree, alecrim e limão siciliano. 

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